segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Síndrome do Mau Humor

Personagem de novela alerta para "síndrome do mau humor"

HELOÍSA JUNQUEIRA - Colaboração para o UOL
03/01/2010 - 08h01
Texto original

Alterado/resumido livremente por Nina para o Frente e Verso®

Em um capítulo recente de “Viver a Vida”, novela das 9 da Rede Globo, até a própria mãe perdeu a paciência (e a complacência) com a filha. “Como você é desagradável!”, disse Ingrid (Lília Cabral) para Isabel, vilãzinha interpretada com um talento ímpar pela novata Adriana Birolli. Chata ao extremo, cruel e implicante, ela destila veneno e mau humor por onde passa. A principal razão para tanto rancor, óbvia para o telespectador, mas ainda obscura para a personagem, é o sentimento de desvantagem em relação às irmãs. “Acho que ela cria uma competição muito forte com as irmãs pelo afeto dos pais. Ela se sente excluída, de certa forma, pois acredita que as outras recebem mais carinho e amor do que ela”, comenta Adriana.

Na vida real, todo mundo conhece alguém que, não só parece estar sempre de mal com a vida, como ainda deseja estragar a felicidade alheia. Temos uma tendência de perceber o chato ou agressor como o vilão. Na verdade, o mal-humorado também sofre, é desconfiado, sente-se muito ameaçado e responde a tudo com agressividade e raiva, para se defender. Ele precisa tanto de ajuda quanto as vítimas de seu comportamento.

Quem se identifica com Isabel deve reavaliar as situações e passar a percebê-las de forma menos ameaçadora para se libertar da raiva e da perseguição que atormentam a toda hora. A pessoa passa a ser escrava de sentimentos negativos que a transformam num ser humano desagradável em seu convívio. No entanto, é possível aprender melhores formas de perceber diferentes situações e retomar o autocontrole necessário para uma vida mais feliz.

As pessoas que reclamam muito da vida têm, em geral, um olhar para as situações com um viés pessimista. No entanto, elas se consideram realistas e isso as impede de buscar ajuda necessária para melhorar. Mudar isso passa por um complexo processo de dar novo sentido aos valores, experiências, crenças e ideias para que tornem suas vidas mais suportáveis. Muitas vezes, não conseguimos mudar algo em nós mesmos porque não sabemos como fazer essa mudança ou não acreditamos que podemos mudar. É preciso ter ferramentas emocionais suficientes e conhecer profundamente as forças e fraquezas, para se sentir seguro e agir diferente. Assim, enquanto a pessoa não encontra esses caminhos é mais fácil colocar a responsabilidade pelos problemas nas circunstâncias, na vida, na situação ou no outro, pois, assim, não há o contato com as próprias dificuldades internas. O resultado é um cotidiano pesado e sofrido, com farta distribuição de infortúnios e lamentações às pessoas que estão em volta.

Porém, muita gente se pergunta: diante de tantos problemas cotidianos (falta de dinheiro, trânsito e clima de competição no trabalho, só para citar os mais amenos), é difícil permitir que uma nuvenzinha negra se instale em nossas vidas, não é mesmo? Não há como evitar 100% o mau humor, mas, se ele dura mais de seis meses, deve-se procurar ajuda. O nosso estado de humor é influenciado pela percepção que temos a respeito do que acontece em nossa vida. Ficamos mais ou menos bem-humorados quando percebemos uma situação como sendo mais ou menos estressante. Desta forma, uma apreciação realista e flexível frente aos problemas pode fazer toda diferença no estado de humor. É preciso evitar o pessimismo diante das dificuldades cotidianas. Todos nós enfrentamos problemas, o que não podemos é nos tornar vítimas deles. Nós devemos dominar a nossa mente e não o contrário.

Transtorno

Em muitos casos, o mau humor deixa de ser um traço de comportamento e se transforma em um mal crônico chamado distimia, transtorno que, estima-se, atinge cerca de 3% a 5% da população geral, afetando igualmente homens e mulheres. A doença deve ser tratada com psicoterapia e medicamentos antidepressivos ou estabilizadores do humor. Alguns sintomas são comuns aos distímicos, como falta de apetite ou apetite em excesso, insônia ou hipersonia, falta de energia ou fadiga, redução da autoestima, dificuldade de concentrar-se ou tomar decisões, sentimento de falta de esperança, vergonha e dificuldades para manter a rotina em equilíbrio.

Vale ressaltar que o mau humor é normal. Ele passa a ser preocupante e crônico quando vem acompanhado de tristeza em excesso, depressão e até mesmo agressividade, ou seja, é um mau humor de forma exacerbada. Quando a pessoa está neste estágio, ela fica incontrolável. Em único dia, pode ter oscilações de humor, o que é até natural. Mas, quando o mau humor ocorre com picos mais constantes e permanentes, é preocupante.

A melhor forma de controlar esse mau humor é por meio de medicamentos, para acalmar, e psicoterapia. Em geral, a pessoa mal-humorada até percebe que é desse jeito, mas, muitas vezes, não aceita a realidade. Por isso é importante o apoio da família e amigos mais próximos para ajudá-la a procurar um especialista. Também pode ajudar a prática de atividades prazerosas, que extravasem a energia, como esportes, música e trabalhos manuais, que podem gerar prazer e satisfação.

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